Parte II
Dando sequência às breves análises dos historiadores sobre a pandemia COVID-19. Seguimos agora com Marco Gandra, historiador e amigo do MEP; e Danilo Caruso, professor de história no MEP.
Marco em sua fala inicial, lembra que a repetição dos fatos históricos estão associados a tragédia e farsa:
“A história só se repete em forma de farsa ou tragédia, de tragédias trataremos. A COVID-19, em sua novidade, traz muitas dúvidas e desafios para os cientistas no ramos da Biologia, Infectologia, Epidemiologia, Medicina, etc. A História, humildemente, fornece registros de fenômenos anteriores, contribuindo para o acúmulo de conhecimentos através do ramo da História da Ciência, por si só enorme para ser tratado neste espaço, mas também por exigir pesquisa apurada sobre o trabalho destes especialistas.” acentuou historiador.
O prof. Marco, depois de ‘passear’ pela gripe espanhola em 1918, I Guerra Mundial (1914-1918) e a II Guerra Mundial (1939-1945) deforma aprofundada destacou:
“No interim disso aspectos como o surgimento de militaristas, nacionalistas-xenófobos, racistas, anticientíficos, que em uma espiral crescente de irracionalidade apontavam para a solução final, através de falsos mitos e genocidas líderes, corporificados nas experiências nazi-fascistas, custando outras dezenas de milhões de vidas.” Sistematizou Gandra.
“Agora que o Brasil já é considerado o epicentro da peste que assola o mundo, fazer gestão para que se abandone ou diminua o isolamento social não é apenas uma atitude irresponsável de presidentes obscurantistas, ou empresários que em seu seguro isolamento exigem que seus funcionários se amontoem no transporte público rumo à contaminação: é uma aposta deliberada no flagelo social, no caos que “justifique” a tentativa de uma aventura autoritária, aproveitando a impossibilidade de oposição física, nas ruas, à destruição da jovem e ainda subnutrida democracia brasileira.” Pontua o professor.
Acrescentou ainda:
“A tarefa que nos exige é muito grandiosa: derrotar a doença com a única arma que temos, o isolamento social, ao mesmo tempo em que enfrentamos as funestas tentativas de reduzir direitos e/ou destruir a democracia que ainda não terminamos de construir.” Conclamou o Historiador.
Na mesma linha do prof. Marcos, Danilo Caruso, professor de história no MEP, também dá questões históricas das guerras e pandemia, e acresce aspectos relevantes em relação ao tema tanto no Brasil como em outros países.
“No Brasil, o influenza chegou em outubro de 1918, pelo Porto do Rio. Só naquele mês, 12.000 pessoas morreram – incluindo o presidente da república recém eleito, Rodrigues Alves. Mas foi nas então colônias europeias da África e da Ásia (que haviam cedido milhões de soldados para defender os interesses imperialistas de suas metrópoles) que a ação do vírus foi mais devastadora: na China, os corpos se acumularam em pilhas pelas ruas das principais cidades; na Índia, cerca de 4% da população morreu, em apenas 1 ano.”
Danilo, seguiu após pontuando a interpelação sociopolítica, econômica e ideologia, fatos que segundo ele fazem realçar união a e solidariedade no contexto das pandemias.
“ No Brasil temos o agravante do governo federal ser parte do problema, e não da solução (e, se nos governos estaduais parece haver um mínimo de racionalidade, ainda assim ela se apresenta sobre um mar de incompetência generalizada e de anos de descaso e sabotagem com a saúde pública). Como se não bastassem todos esses colossais problemas, temos ainda que conviver com a tentativa incessante, por parte do governo federal, em corroer o pouco que nos resta de democracia, visando o fechamento do regime e a instituição de uma ditadura aberta e sem freios (coisa que, aliás, já era abertamente tentada pelo governo antes mesmo do início da pandemia).” Analisou o historiador.
“Resta confiar na capacidade de auto-organização da população trabalhadora, esperando que a parte dela que foi seduzida pelo canto da morte tenha tempo hábil para colocar a mão na consciência e entender que está sendo manipulada por forças do obscurantismo ideológico, do imperialismo estadunidense e do fundamentalismo religioso. Para essas pessoas, é hora de adotar uma das posturas mais dignas que um ser humano é capaz ter: a de admitir o próprio erro e trabalhar para corrigi-lo. Que todos aceitem de braços abertos aqueles que, mesmo errando no passado, estiverem agora conscientes do caminho correto a tomar, que só pode ser o da união, da tolerância, e do respeito à democracia e à vida humana em primeiro lugar.” Recomendou Caruso, voluntário no MEP desde 2006.